O valor de tentar: A coragem que move a advocacia
- Geovane Ferreira Pires
- 13 de jun.
- 3 min de leitura
Na rotina da advocacia, é comum nos depararmos com limitações processuais, dúvidas estratégicas e contextos que parecem adversos desde o início. Em muitos desses momentos, surge uma questão que merece reflexão: será que estamos tentando tudo o que é possível?
A experiência mostra que, diante de um problema jurídico, diferentes abordagens podem emergir: algumas mais técnicas e estritamente processuais, outras mais voltadas à busca de soluções práticas e criativas. Ambas são legítimas — mas, em muitos casos, a diferença entre o insucesso e um resultado positivo pode estar justamente na disposição de tentar, mesmo diante das aparentes limitações.
Entre a técnica e a solução
Não é raro ver profissionais do Direito — sobretudo os mais apegados à doutrina ou à rigidez processual — hesitarem diante de caminhos fora do tradicional. O temor de propor algo "fora do usual" pode ser paralisante. Mas a advocacia não pode ser reduzida a um exercício puramente mecânico da técnica; ela é, sobretudo, instrumento para a construção de soluções reais.
Por isso, é preciso questionar: o que efetivamente nos limita? A negativa prévia de um magistrado? A leitura superficial da inexistência de bens do devedor? A ausência de um documento que, em tese, seria essencial para comprovar o direito?
Essas limitações existem, sim. Mas nenhuma delas deve nos impedir de agir.
As barreiras reais — e as imaginárias
Algumas restrições fazem parte da realidade forense. Seguem alguns exemplos:
Decisões judiciais desfavoráveis: nem sempre é possível reverter um entendimento consolidado.
Inadimplência ou ausência de bens do devedor: o crédito pode ser reconhecido, mas a execução pode ser frustrada.
Falta de prova documental: ainda que o cliente tenha razão, pode faltar o elemento material capaz de sustentar a tese.
Esses obstáculos, contudo, não devem impedir a tentativa. Pelo contrário, devem estimular a busca de alternativas:
É possível buscar indícios de fraude ou ocultação de bens.
É viável recorrer a provas testemunhais, registros eletrônicos, perícias técnicas.
É legítimo provocar o Judiciário com interpretações inovadoras, desde que fundadas.
Advocacia é contato humano
Os processos são analisados por pessoas. Magistrados e servidores não são autômatos. São profissionais do Direito, como nós, com visões de mundo, formações diversas e vivências particulares. E a forma como apresentamos nossa tese, como conduzimos nossa argumentação, como estruturamos nossos pedidos — tudo isso influencia na maneira como o processo será lido e compreendido.
Mais do que redigir uma petição tecnicamente perfeita, é necessário comunicar-se com quem está do outro lado da mesa. Convencer, sensibilizar, despertar dúvidas legítimas. Se conseguimos isso, criamos um espaço para que o julgador busque fundamentos para acolher a tese que lhe foi apresentada com clareza e propósito.
O medo de parecer ousado
Um dos maiores bloqueios que impedem tentativas válidas na advocacia é o receio do constrangimento. O medo de parecer ignorante, inadequado ou exagerado. O medo de apresentar uma tese diferente, de propor um acordo incomum, de sugerir um caminho não tradicional.
Mas quantas boas soluções são perdidas por essa hesitação? Quantos acordos deixaram de ser celebrados porque um dos lados presumiu que seriam recusados de imediato?
Às vezes, mesmo propostas ousadas são aceitas. Às vezes, o improvável acontece. Mas isso só é possível se houver a iniciativa de tentar.
Tentar também é um compromisso
Na advocacia, não se pode prometer resultados — mas é indispensável entregar esforço, dedicação e estratégia. Isso é o que o cliente espera e valoriza: saber que seu advogado buscou, com seriedade, todas as possibilidades viáveis. Mesmo quando o desfecho não é favorável, a postura combativa, comprometida e presente é percebida.
Conclusão: nunca deixe de tentar
Sim, podemos ser limitados pelo resultado de nossas tentativas. Mas jamais devemos ser limitados pela ausência delas.
A advocacia exige coragem! Coragem de enfrentar teses contrárias, de superar obstáculos processuais, de negociar com firmeza e de sustentar ideias que ainda não foram exploradas.
Em um cenário de incertezas, a postura de quem tenta — com ética, técnica e ousadia — é o que diferencia o profissional comum do advogado que faz a diferença.
Belo Horizonte, 20 de maio de 2025.
Geovane Ferreira Pires
Advogado especialista em Direito Imobiliário
Membro da Comissão de Direito Imobiliário da OAB/MG
Membro da Associação Mineira dos Advogados do Direito Imobiliário - AMADI
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